Em recente entrevista à Visão, que se pode ler aqui, o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, teve o azar de uma jornalista bem documentada abordar a questão da cruel e violenta carga letiva semanal a que estão sujeitas as crianças do 1.º Ciclo.
«Como reduzir a carga horária dos alunos do 1º ciclo ou reequilibrá-la melhor entre várias áreas e tipos de aprendizagem? Há duas questões. Por um lado, ao reafirmarmos a monodocência como essencial no 1º ciclo, estamos a permitir que o principal instrumento de integração entre áreas curriculares seja efetivado. Por outro lado, no âmbito do trabalho em curso sobre o currículo e a sua gestão, uma das matérias em cima da mesa é a discussão sobre a carga horária semanal, de todos os ciclos, não só do 1º.»
A resposta é mais clarificadora do que alguns poderiam presumir. A “reafirmação da monodocência” serve apenas os interesses económicos de uma tutela que nada pretende alterar porque quer, conscientemente e em prejuízo dos alunos e dos professores, garantir a “escola a tempo inteiro” à custa dos docentes do 1.º Ciclo, perpetuando assim a ignóbil exploração profissional de um grupo de especialistas altamente qualificado.
Mas o PIOR vem depois quando o ministro, a respeito da desigual carga letiva (1 500 min no 1.º Ciclo vs 1 100 min a partir do 2.º Ciclo), troca os pés pelas mãos, obliterando conscientemente pressupostos e factos elementares. Diz ele: «(…) no âmbito do trabalho em curso sobre o currículo e a sua gestão, uma das matérias em cima da mesa é a discussão sobre a carga horária semanal, de todos os ciclos, não só do 1º.»
Em política, quando se utiliza a expressão “é uma das matérias em cima da mesa”, quer-se dizer que falaremos disso entre um café e uma bolacha. Mas o Sr. Ministro borra voluntariamente a pintura quando ousa, por meio de um discurso farisaico, a roçar o topete gratuito, insinuar que todos os docentes estão em igualdade de circunstâncias, incluindo o 1.º Ciclo. Senhor Ministro, não. Não estamos. Os docentes a partir do 2.º Ciclo gozam de um conceito de tempo letivo e de carga horária semanal diferentes. Pelo mesmo salário, repete-se, os docentes do Pré-escolar e do 1.º Ciclo, trabalham 1 500 min e os pares dos níveis subsequentes 1 100 min, uma injustiça agravada pela questão intervalo e do calendário escolar que V. Exª. manteve e agravou. Um diferencial de 1 600 min/mês que voa para os cofres do Estado.
Honestidade intelectual precisa-se. Principalmente, na res publica.
Para o 1.º Ciclo, esta equipa ministerial nada quer verdadeiramente alterar ou corrigir. Segue a mesma sanha persecutória dos sindicatos de professores: sacrificar e apoucar os que julga ou tem por mais fracos.
Comentário: Faltou acrescentar de forma clara, que mais uma semana de aulas em relação aos ciclos seguintes, foi adicionada no mês de junho.